terça-feira, 19 de abril de 2011

Atividades Sócio-econômicas de Juazeiro

O porto fluvial se tornou uma importante rota de transação comercial pelos sertões, bem como de comunicação, pois circulavam negócios, informações e viajantes. Juazeiro iniciava o processo de urbanização de suas praças, demonstrava preocupação em prover a comunidade com assistência à saúde por meio da Santa Casa de Misericórdia. Também procurava viabilizar o acesso à educação formal com o funcionamento de duas escolas primárias.
O município de Juazeiro está localizado na Microrregião do Baixo Médio São Francisco. Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e conforme a divisão político-administrativa vigente desde fins dos anos 80, a Região Baixo Médio São Francisco é identificada pelo IBGE, como Microrregião de Juazeiro, para fins de levantamento censitário. Esta região compõe-se de oito municípios: Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho. Juazeiro encontra-se a Leste com o Município de Curaçá, a Sul com Jaguarari e Campo Formoso, a Oeste com Sobradinho e a Norte com o Estado de Pernambuco. Está em uma altitude de 383 metros, nas coordenadas geográficas 09°41’00 de latitude sul e 40°50’00” de longitude oeste. Seu acesso a partir de Salvador é efetuado pelas rodovias pavimentadas BR-324, BR-116 e BR- 407 num percurso total de 500 km. O município de Juazeiro surgiu a partir de um próspero comércio que foi se desenvolvendo às margens do Rio São Francisco, no principal ponto de divisa entre os Estados da Bahia e Pernambuco, onde era o porto de passagem de tropeiros e comerciantes. A partir daí, Juazeiro (criado em 1833) transformou-se em um moderno pólo agro-industrial, com intensa atividade de exportação. A cidade modernizou-se com a urbanização da orla fluvial e com o novo visual dos arcos da ponte Eurico Gaspar Dutra, agora ocupados por pequenos bares e restaurantes. 
Entre os anos de 1878 e 1885 a cidade estruturava-se como um emergente centro comercial e urbano.  Urbanização é um conceito geográfico que representa o desenvolvimento das cidades. Neste processo, ocorre a construção de casas, prédios, redes de esgoto, ruas, avenidas, escolas, hospitais, rede elétrica, shoppings, etc. Este desenvolvimento urbano é acompanhado de crescimento populacional, pois muitas pessoas passam a buscar a infra-estrutura das cidades. A urbanização, quando planejada, apresenta significativos benefícios para os habitantes. Porém, quando não há planejamento urbano, os problemas sociais se multiplicam nas cidades como, por exemplo, criminalidade, desemprego, poluição, destruição do meio ambiente e desenvolvimento de subhabitações. Segundo Corrêa (2002, p. 8) o espaço urbano é um reflexo tanto de ações que se realizam no presente como também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente. Para ele, “ao se constatar que o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado, e que esta divisão articulada é a expressão espacial de processos sociais, introduz-se um terceiro momento de apreensão do espaço urbano: é um reflexo da sociedade”. O espaço urbano aparece no primeiro momento de sua apreensão, como um espaço fragmentado, caracterizado pela justaposição de diferentes paisagens e uso da terra. Na grande cidade capitalista estas paisagens e usos se originam um rico mosaico urbano constituído pelo núcleo central, a zona periférica do centro, áreas industriais, subcentros terciários, áreas residenciais distintas em termo de forma e conteúdo, como favelas e os condomínios de luxo (Corrêa, 2005, p.145). As cidades são pontos de interseção e superposição entre as horizontalidades e verticalidades. Elas oferecem os meios para o consumo intermediário das empresas. O urbano é um produto do processo de produção de um determinado momento histórico, não só no que se refere à determinação econômica do processo (produção, distribuição, circulação e consumo), mas também no que se referem às determinações sociais, políticas, ideológicas, jurídicas que se articulam na totalidade da formação econômica e social. Assim, “o urbano é mais que um modo de produzir, é também um modo de consumir, pensar, sentir, enfim é um modo de vida.” Corrêa (2002, p. 9) diz que o espaço urbano é fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. Para ele a própria sociedade é dessa forma, em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada a partir das formas espaciais.  Historicamente, Juazeiro é uma referência para o centro comercial, econômico e político do Vale do Submédio São Francisco. Contudo, processos socioculturais, como a construção da Barragem de Sobradinho na década de 1970, trouxeram mudanças sociais, econômicas e políticas para a cidade que, nos anos seguintes, sem uma maior intervenção governamental e municipal, ocasionariam uma situação de estagnação econômica. As mudanças econômicas também impulsionaram e foram acompanhadas de transformações culturais e urbanísticas. Já na cidade vizinha Petrolina-Pe, observa- se que ocorreu um maior planejamento urbano. Juazeiro é uma cidade muito mais antiga que Petrolina, a vida urbana se fez de uma forma mais espontânea, a configuração do próprio centro urbano dá evidências de que o processo foi mais natural. O potencial do comércio marítimo pelo Rio São Francisco, já está no início do século XX bastante evidenciado com a atividade da Companhia de Navegação do Rio São Francisco e empresas similares que, com suas embarcações, possibilitam o tráfego intenso de gente e produtos e favorecem o desenvolvimento dessa região as margens do rio. Juazeiro, pela sua condição topográfica, passa a ser ponto de partida, da Bahia, de todas essas embarcações que sobem, e ancoradouro das que descem de Pirapora (MG) com os produtos. E dessa forma o município se faz uma cidade referência para o Médio São Francisco e foi se construindo como um centro mercantil importantíssimo na história da Bahia. Segundo Corrêa (2002) na Área Central concentram-se as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos. Ela se destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização. Na cidade de Juazeiro – BA essa área central se destaca pela quantidade de fluxos recebidos, por ser uma área de influência e possuir serviços que somente são encontrados nos centros urbanos, como prefeitura, bancos, shoppings, farmácias, hospitais, etc. Nesta área, as casas comerciais são maioria, a área que não é central, denominada Periferia, é caracterizada pela presença de serviços menos elaborados, que se utilizam de menos tecnologias, e por isso, de ordem inferior, como por exemplo, padarias, armazéns, lojas de pequeno porte, mercearias, etc. Na periferia o fluxo de pessoas é bem menor que no centro, pois os serviços que são oferecidos lá não atraem tanto as pessoas quanto os disponíveis na área central da cidade. Nessas áreas periféricas, o número de casas comerciais diminui, dando espaço às casas residenciais (pericentro). Ao se distanciar do centro de Juazeiro, indo em direção à Sobradinho, nota-se a ausência de serviços, e a presença de muitas casas residenciais (subcentro). No centro de Juazeiro é notório que a infra-estrutura é bem melhor do que nas áreas periféricas da cidade. O fato de essa área receber grande fluxo de pessoas diariamente exige que sua infra-estrutura seja adequada para suportar e satisfazer seus visitantes. Já nas áreas periféricas da cidade notaram-se menos investimentos.
Vinhedo da Fazenda Special Fruit

 A Microrregião Baixo Médio São Francisco tem Juazeiro como seu principal pólo de desenvolvimento. Suas principais atividades econômicas dizem respeito à agricultura irrigada, a agropecuária, ao comércio e aos serviços. As indústrias nela instaladas, especialmente na cidade de Juazeiro, são bastante incipientes.
O Vale do São Francisco é uma das novas regiões vitivinícolas brasileiras produtoras de vinhos finos. É responsável por 95% da uva de mesa fina cultivada no país. Em virtude do clima tropical semi-árido, com grande incidência de insolação e baixa precipitação de chuvas, os vinhedos são irrigados por sistema de gotejamento. Observamos muito bem esse processo na visita realizada a Vinícola ouro Verde.

Foi a partir da implantação da barragem de Sobradinho que os maiores investimentos de porte, baseados em tecnologia moderna foram atraídos para a região de Juazeiro. Com efeito, ganham significado na sua base econômica as culturas tradicionais de cana-de-açúcar, mandioca, milho, feijão e arroz e, em especial, a pecuária bovina extensiva. A CODEVASF vem exercendo uma influência decisiva no processo de ocupação do espaço regional com a implantação de projetos de irrigação pública. Os investimentos realizados pela CODEVASF em obras de infra-estrutura hídrica na região vêm atraindo empresários do sul do país como o proprietário da Vinícola Ouro Verde para a instalação de projetos de irrigação, pois desembolsam apenas recursos nas inversões das parcelas ou lotes. É no Baixo Médio São Francisco que se localiza a região mais modernizada e diversificada de toda a Bahia na produção de frutas para exportação com base na irrigação. A especial fruit uma agroindústria localizada na zona rural de Juazeiro que produz uva e manga para o mercado europeu é um exemplo, a articulação da agricultura irrigada com atividades agroindustriais poderá ser um fator para viabilizar novos investimentos na região e produzir amplos efeitos econômicos.
As lavouras da microrregião de Juazeiro, segundo o Censo Agropecuário de 1996 do IBGE, correspondem a 16% do Valor Bruto de Produção (VBP) da agropecuária estadual, com uma atividade de elevado valor, concentrada na produção irrigada de hortifrutícolas para exportação com competitividade em escala regional, nacional e internacional. Os projetos de irrigação possibilitam ao agricultor o enfrentamento dos períodos de seca sem prejuízos a produção agrícola. O problema é que no vale do rio São Francisco, a irrigação excessiva em solos rasos, agravada pela intensa evaporação, vem causando salinização dos solos. Como conseqüência, em algumas áreas o uso do solo para a agricultura já se tornou impraticável.
A localização de Juazeiro no trecho navegável do rio São Francisco que articula as regiões produtoras do Oeste, Médio e Baixo Médio São Francisco da Bahia pode favorecer a implantação de uma infra-estrutura de transporte hidroviário que, além de possibilitar maior integração entre essas regiões, contribuiria para o desenvolvimento do turismo. Por sua vez, o lago de Sobradinho poderia ser mais bem utilizado tanto para o turismo quanto para a atividade pesqueira. Juazeiro se destaca, também, por estar na rota de mercadorias e serviços oriundos do Sudeste brasileiro e de várias regiões da Bahia para o Nordeste, e vice-versa.  Juazeiro se inclui entre as grandes concentrações urbanas do Estado da Bahia, com seus 230.538 habitantes. Destaca-se como a única cidade deste porte no Baixo Médio, reunindo sozinha quase a totalidade dos habitantes das demais cidades da região em conjunto (que é de 250.916 habitantes)
A irrigação mais intensa em Juazeiro foi posterior à construção da barragem de Sobradinho, no final de década de 70 e início da década de 80, principalmente com os projetos de colonização, pela ação do governo federal, através da SUVALE, que se transformou depois na CODEVASF. Inicialmente, a questão era levar água para a produção agrícola. O Salitre foi, naquela época, um grande celeiro nesse tipo de produção, grande parte das frutas que existia na feira de Juazeiro era quase tudo, produzido no Salitre.
No entanto, há locais aonde a implantação da irrigação vem logrando êxito bastante contundente, como é o caso do pólo Petrolina/Juazeiro, tal pólo consiste na principal experiência de sucesso na implementação de projetos de irrigação no semi-árido nordestino, apresentando elevados índices de crescimento econômico e desenvolvimento social, devido à geração de empregos e renda resultantes da implantação da agricultura irrigada na região, os municípios de Petrolina e Juazeiro conseguiram construir um capital social bastante integrado à nova realidade do pólo, sendo esta uma das possíveis razões para o relativo sucesso observado. A industrialização, por sua vez, juntamente com o desenvolvimento da agricultura irrigada, influencia indiretamente o setor de serviços, provocando efeitos positivos e negativos no nível de empregos. Gera uma alavancagem direta, que inclui o capital privado investido em atividades diretamente relacionadas à agricultura irrigada, ou seja, capital investido pelos colonos, pelas empresas e pelas agroindústrias; e alavancagem indireta, que inclui investimentos decorrentes da expansão da agricultura irrigada (no comércio, em serviços, em pequenas indústrias de equipamentos, por exemplo) ou em infra-estrutura (melhoria de estradas, aeroportos, saúde e educação). Observamos que um grande contingente populacional passa a dirigir-se para essas regiões, atraídas pelo aumento do dinamismo, em busca de emprego nos setores secundários e terciários.
A introdução dos projetos de irrigação aumentou a intensidade e a qualidade do uso do solo, o que acabou elevando a produtividade, a produção e, conseqüentemente, a renda nas unidades produtivas afetadas pela irrigação. Dessa forma, estas unidades passaram a necessitar mais trabalhadores para suprir o aumento da produção. Isto aumentou a renda, resultando em um aumento substancial do nível de emprego e esses fatos geraram efeitos multiplicadores na economia da região. Um crescimento econômico não significa necessariamente melhoria na qualidade de vida da população, porém, a constituição de um capital social inserido à nova realidade produtiva da região pode ter contribuído para que este crescimento econômico se potencializasse e se transformasse, também, em desenvolvimento social.  A Teoria do Lugar Central, desenvolvida por CHRISTÄLLER (1933), baseia-se no princípio da centralidade, sendo o espaço organizado em torno de um núcleo urbano principal, denominado lugar central. A região complementar, ou entorno, possui uma relação de co-dependência com o núcleo principal, por este ser o local que oferta bens e serviços por natureza urbanos. A base da teoria define que o ritmo de crescimento de um núcleo urbano depende do nível de demanda por serviços urbanos especializados sobre a área atendida pelos lugares centrais. Uma vez que no centro (lugar central) de Juazeiro é disponibilizado grande número de serviços dos mais variados, que é a função de um núcleo urbano: atuar como centro de serviços, assim fornecendo bens e serviços centrais, que se caracterizam por serem de ordens diferenciadas, gerando uma hierarquia de centros urbanos.
              O visível contraste entre as cidades de Juazeiro e Petrolina resulta do fato de que existiu ali e, isso no momento necessário, uma intervenção governamental decisiva, e a ação municipal em Petrolina se fez de forma mais organizada e racionalizada. Juazeiro é uma cidade muito mais antiga que Petrolina, onde a vida urbana se fez de uma forma mais espontânea, a configuração do próprio centro urbano de Juazeiro dá evidências de que o processo foi mais natural. Então se encontram ruas bastante estreitas no centro, diferentemente do que se percebe em Petrolina. E um grande diferencial de Petrolina, foi esse planejamento urbano, dentro de um projeto de cidade moderna, que no caso de Juazeiro não foi assim. A partir do que foi estudado para a realização deste trabalho percebe-se que o município de Juazeiro revelou um variado desempenho produtivo desde a década de 70, aumentando seu grau de industrialização, de oferta de infra-estrutura e de urbanização. A evolução das características estruturais do espaço urbano de Juazeiro, de certa forma contribuiu para o desempenho da cidade. Sua dinâmica urbana perpassou por diversos fatores, dentre eles a agroindústria e seus diversos serviços como bancos, hospitais e seu crescimento populacional.



REFERÊNCIAS:

http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/bahia/relatorios/JUAZ091.pdf acessado em 13 de fevereiro de 2011.

SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O Brasil: Território e sociedade no inicio do século XXI. - 9° ed – RJ: Record, 2006;

CORRÊA, R. L. O espaço Urbano. – 4° ed – SP: Ática, 2002;

CORRÊA, R. L. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997;

www. sei. ba. gov. br – acesso em 133/03/2011;

www. Ibge.gov.br – acesso em 13/03/2011.

ROGERIO, Haesbaert; Região, regionalização e regionalidade: questões contemporâneas. Antares, nº 3 – jan/jun 2010.
BLOCH, Didier. As frutas amargas do Velho Chico: irrigação e desenvolvimento no vale do São Francisco. São Paulo: Livros da Terra-Oxfam,1996.


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